Sofrer por amor, por vezes, é normal. Mas quando podemos dizer que esse é um sintoma patológico? Quando ultrapassa o limite daquilo que consideramos normal?
Para Platão existe o amor genuíno e o amor possessivo. Ainda que muitas sejam as definições, essa é uma boa interpretação, já que é exatamente na segunda classificação que podemos entender o limite do saudável.
Te proponho, primeiramente, uma reflexão:
Em uma relação onde o descontrole, a falta de liberdade, a obsessão, a dependência e o sofrimento já tomaram conta, podemos realmente considerar que o que existe é amor?
A autocrítica diante dessa reflexão é necessária já que, vindos de você, ou dx parceirx, esses sinais merecem atenção. Afinal de contas, um relacionamento abusivo pode nascer de tais atitudes tóxicas.
Fatores psicossociais podem estar diretamente associados a essa maneira de se comportar dentro de relacionamentos afetivos. O que queremos dizer com isso é que, as crenças baseadas na concepção de amor como posse data de milênios, de quando surgiram os relacionamentos monogâmicos.
O grande problema não está na monogamia, mas na crença na posse que resulta em obsessão, dependência e sofrimento. Dessa forma, podemos afirmar que o amor patológico causa uma espécie de vício. Isso acontece porque a paixão estimula os mesmo neurotransmissores e áreas do cérebro que as drogas.
Os sinais mais evidentes de que a relação ultrapassa o limiar entre amor e dependência incluem o medo exagerado de que a relação termine, compulsão e impulsividade em relação ao parceirx, além de sintomas específicos – análogos à abstinência – diretamente associado ao distanciamento (físico ou afetivo)
– Sudorese
– Dor de cabeça
– Náusea
– Tremores
– Inquietação
A busca obsessiva por agradar e se certificar de que obtém a reafirmação de suas ações a todo momento também é um sinal marcante da dependência emocional, característica desse tipo de relacionamento patológico.
Tendo em vista a violência que pode surgir da dependência causada por um amor patológico, o Senado Federal divulgou o “Violentômetro”, para que pessoas possam identificar se vêm sofrendo abusos e agressões psicológicas ou físicas.
Esse conteúdo se destina, principalmente, a mulheres, já que elas são as mais afetadas por esse tipo de relação que surge dos fatores psicossociais que citamos anteriormente. Infelizmente, ainda há muitas crenças enraizadas sobre papel da mulher na sociedade (ser submissa, servir ao seu parceiro, “o amor tudo perdoa”, etc.) que afetam diretamente a forma como elas são vistas no seu convívio, bem como a sua própria percepção sobre o seu papel dentro de relacionamentos e até mesmo na sociedade em geral.
Uma forma de entender o limiar entre o que é saudável e patológico é refletir: “O sofrimento é maior que o bem-estar causado pelo convívio da relação?”. Se a resposta for sim, é melhor buscar ajuda.
A notícia boa é que, se você ou alguém que você conhece, vive sofrendo demais por amor e se metendo em relacionamentos tóxicos, a terapia pode ajudar a entender os gatilhos por trás de tal dependência e assim ajudar a construir relacionamentos mais saudáveis, baseados na confiança mútua, carinho, dedicação, empatia, compreensão, apoio e, principalmente, SEGURANÇA.
Se lembre que o amor saudável preserva os interesses individuais. Você não precisa abrir mão das suas amizades, nem deixar de frequentar lugares que gosta, ou desistir dos seus planos para o futuro para se submeter aos planos que outra pessoa fez por você. Amor é sobre: COMPARTILHAR.
Para entender melhor sobre os limites do “amor”, confira o vídeo de uma palestra da psiquiatra Fabiana Nery: