Você já se sentiu culpado ou até mesmo intrigado com o fato de que, por mais que você solucione problemas, eles nunca deixam de existir? Isso se aplica a muitas situações do nosso dia a dia, desde aquilo que consideramos errado, seja em um aspecto comportamental (seu ou do outro).
Essa sensação de constante descontentamento aflige muitas pessoas, principalmente pela falta de resposta. Mas uma pesquisa desenvolvida por psicólogos norte-americanos identificou um padrão que ajuda a entender o porquê parece tão difícil nos livrarmos de problemas: quando algo se torna raro, nós, às vezes, o enxergamos em mais lugares do que nunca.
O que isso quer dizer? Usando o exemplo dado por um dos pesquisadores em sua publicação no The Conversation: suponha que há um esquema de vigilância voluntária no seu bairro. Em um primeiro momento, apenas situações sérias chamarão a atenção (roubos, agressões, por exemplo), mas a medida em que esses atos se tornam raros, o conceito de “crime” é alterado quase que de maneira imperceptível, e atos que antes não eram penalizados, como atravessar fora da faixa de pedestres, começa a ser vistos como transgressões.
Isso, quando aplicado em contextos pessoais e emocionais, pode ser muito frustrante, afinal de contas como você pode saber se está progredindo na resolução de um problema, quando você fica redefinindo o que significa solucioná-lo?
Tal tipo de inconsistência não é limitada a julgamentos sobre ameaça. No estudo, foi possível identificar esse tipo de “flexibilidade” em escolhas simples como a escolha de cores e até mesmo no julgamento do que é considerado imoral. O que as pesquisas de psicologia cognitiva e neurociência sugerem é que esse tipo de comportamento é uma consequência do modo básico como nossos cérebros processam informação – estamos constantemente comparando o que está diante de nós com o seu contexto recente, com o que aconteceu há pouco.
Entendendo como essa atitude inconsciente do nosso cérebro de “trocar o gol de lugar” pode prejudicar nossa percepção, os pesquisadores propõem uma estratégia potencial: quando você está tomando decisões em que a consistência é importante, defina suas categorias da maneira mais clara possível. Então, se você se juntar a um grupo de vigilância de bairro, pense em escrever uma lista de quais transgressões merecem atenção no início. Caso contrário, antes que perceba, você pode acabar chamando a polícia por causa de um cachorro andando sem coleira.
Ficou curioso para saber mais detalhes sobre esse estudo? Você pode ler o artigo completo, escrito pelo pesquisador responsável pelo estudo e traduzido aqui.
Fonte: Levari, et al. Prevalence-induced concept change in human judgment, Science, 29 Jun 2018: Vol. 360, Issue 6396, pp. 1465-1467. DOI: 10.1126/science.aap8731