Ser casado não impede ninguém de se sentir sozinhos. É muito frequente observarmos essa queixa durante a terapia: apesar de estarem casados há 5, 10 ou 20 anos, os cônjuges se sentem sós. Em um estudo que encontrou a sensação de solidão crônica em 20% da população, 62,5% das pessoas que se sentiam muito sozinhas eram casadas. O problema é que se sentir sozinho em uma relação, apesar de ser bem comum, raramente é discutido a dois, e ignorar essa sensação abre portas para distanciamento no casamento, e até mesmo consequências físicas e psicológicas, como enfraquecimento do sistema imune, estado de inflamação crônica e aumento de risco para depressão e ansiedade.
Como que a solidão afeta o casamento
Apesar de acreditarmos que estar casados nos protege da solidão, este não é o caso. A solidão é determinada pela qualidade SUBJETIVA dos nossos relacionamentos, e não apenas pelo fato de vivermos com alguém. A solidão no casamento geralmente acontece de forma lenta, provocando uma falta de conexão entre os esposos que gradualmente cresce com os anos.
Do nada, quando se percebe, as discussões sobre interesses comuns, acontecimentos globais, sonhos e objetivos se transformaram em monólogos para pura sobrevivência, do tipo: “acabou o leite”, ou “pagou a conta?” ou ainda assuntos focados apenas nos filhos. Outra coisa que acontece muito é o casal cultivar rotinas que os separam: um assiste televisão a noite enquanto o outro usa o computador; um dorme as 21hrs e acorda as 6 hrs e o outro dorme meia noite e acorda as 9. Ou seja, o amor e afeição vão se perdendo e, por medo de ficarmos sozinhos, nos mantemos em um relacionamento que , ironicamente, está nos mantendo justamente no sentimento que tentamos evitar.
Como combater a solidão no casamento
Esse isolamento social pode até ter provocado uma atrofia nos seus “músculos de relacionamento”, já que eles estão um pouco encostados recentemente, mas é possível fortalecer esses músculos. Fazer isso vai exigir prática e paciência, mas desenferrujar essas habilidades relacionais podem fazer enorme diferença na sua relação:
1- Tome a iniciativa.
Se você se sente sozinho é muito provável que o seu parceiro se sinta também. Mas ele ou ela provavelmente se sentem presos nesse ciclo de aversão e não conseguem quebrá-lo. Tente começar diálogos que não sejam apenas “de sobrevivência”. Pergunte a ele (a) sobre a sua opinião em determinado assunto e demonstre que está escutando. Não espere que haverá uma mudança rápida, já que hábitos são difíceis de quebrar, mas depois de algumas tentativas você já deve notar alguma melhora.
2- Crie experiências compartilhadas
Se a sua esposa está assistindo a série favorita dela (ou o jogo favorto dele), sente ao seu lado e diga: “você gosta tanto disso que vou tentar assistir pra ver o que é tão interessante”. Eles podem ficar confusos, e até suspeitos, mas seja sincero e encontre algo que gostou para falar no final.
Sugira algumas atividades que possam fazer em conjunto e que requiram pouco esforço da parte dele (a): uma volta no quarteirão, fazer uma comida juntos, assistir o seu vídeo de casamento, ver fotos de uma viagem juntos.
3- Pratique estar “do lado deles”
Quanto maior o tempo de casamento mais os cônjuges acreditam saber o que o outro está pensando. Os estudos (e o dia a dia de consultório) mostram que isso é bobagem. Não sabemos o que o outro está sentindo ou pensando ao menos que treinemos escutá-lo e tentar se colocar no seu lugar. Tente imaginar quais os maiores desafios e vivências que seu parceio está vivendo nesse momento, e como é ver o mundo “aos olhos dele (a)”. Treine entender antes de se fazer entendido, e expresse simpatia pelo seu modo de ser, aprofundando o laço que une vocês.
Não deixe que os anos passem e esse sentimento cresça. Parece óbvio, mas seu relacionamento pode ser muito mais apaixonante e divertido se for vivido a dois!