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Terapia do perdão – um caminho para a liberdade

19 de abril de 2016
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Terapia do perdão – um caminho para a liberdade

“A culpa é dele, doutor. Como você espera que eu fique bem nessa situação?”

Na minha frente Márcia (nome fictício) está brava. Eu sempre a vejo assim. O ódio é tão material que poderia cortá-lo com uma faca. Ela está brava com o irmão com o qual vive em companhia da mãe. Esta, idosa, tem a doença de Alzheimer e precisa de cuidados especiais. Mas o irmão, apesar de ter mais de 50 anos de idade, nunca trabalhou, vive às custas da mãe e pega dinheiro/comida/remédios que a mãe precisa, deixando-a em necessidade profunda. A minha paciente sente um ódio muito profundo desse irmão, e está mergulhada em sintomas depressivos e ansiosos. Sua vida está em frangalhos. Sua pele apresentou uma alteração auto-imune que piora com o estresse, desfigurando seu rosto e mãos. Ela não contém a revolta:

“É tudo culpa do meu irmão. Sinceramente, doutor, penso em mata-lo todos os dias.”

A história dessa paciente e muitas outras e outros que passam pelo consultório me fez pesquisar mais sobre um tipo de auxílio para casos em que a mágoa parece ser o tema central da dor psíquica. Me deparei com conhecimentos científicos de um campo muito interessante: o perdão. Comecei a estudar intervenções que ajudassem as pessoas a desfazer da mágoa, e aprender sobre um processo que apesar de muito falado, é pouquíssimo conhecido. E é uma solução eficaz e poderosa para a raiva. Resolvi compartilhar algumas idéias do processo de perdão, que tem feito tão bem para muitos pacientes, para mim, e que pode fazer bem para você.

Você está com raiva?

O primeiro passo para alcançar o perdão é reconhecer que sente raiva e mágoa, e, curiosamente, para muitas pessoas esse é o passo mais difícil. Márcia sabe que sente raiva do irmão, e acredita que essa raiva é completamente justificada. Por outro lado, ela se sente mal ao sentir raiva de todo o resto em sua vida, e de sentir raiva pelos filhos e parentes, e sua raiva acaba vacilando entre sentir raiva do irmão que abusa da mãe e sentir raiva de si por estar tão irritada com todos.

Você está buscando perdão condicional?

Algumas pessoas só estão dispostas a perdoar se asseguradas que a pessoa perdoada irá modificar seu comportamento. Márcia alegremente perdoaria o irmão se ele se ajoelhasse na sua frente e lhe pedisse perdão e nunca mais voltasse a roubar as frutas de sua mãe. Ela não para pra pensar que o que ela queria não era perdão- era vingança, obtida através da humilhação daquele que abusou/magoou.

Um dos primeiros aprendizados no processo de perdão é que o perdão muda A PESSOA QUE PERDOA.

É muito comum que pessoas presas em uma situação abusiva relutem em perdoar, especialmente se já perdoou o abusador no passado, apenas para se verem vítimas de mais abuso de sua parte. Márcia imaginava que perdoar o irmão o daria liberdade de continuar praticando abusos contra a sua mãe, reforçando o comportamento.

Muitas pessoas confundem perdão com confiança. Eles não são a mesma coisa.

Perdão não é uma barganha ou negociação. O perdão não é uma varinha mágica que nos permite controlar os outros. Uma esposa não pode perdoar se dizer “ Eu vou perdoar meu marido mas então ele precisa mudar”. Perdão é um risco, porque nunca sabemos exatamente quais resultados ele vai ter.

Algumas vezes a pessoa perdoada se modifica. Outras vezes não há mudança.

Ressentimento e raiva não desaparecem do nada. Uma mulher magoada pode separar-se do marido, conseguir a guarda dos filhos, a casa, e cada centavo do seu ex-marido, mudar de cidade, casar de novo e começar uma nova vida. Mas se ela não perdoar, pode sofrer de problemas ligados ao ressentimento e seus filhos serão afetados também, causando problemas durante toda a sua vida o que a deixará ainda mais ressentida, com o sentimento de que todos os seus sofrimentos são “culpa” do ex-marido.

É por isso que vemos casais que se separaram e profundamente ligados pelo ódio que cultivam um do outro, em um processo que os acorrentam por ainda mais tempo.

Perdão é um processo

Perdoar é um processo. As pesquisas mostram que simplesmente dizer “eu te perdoo” não é suficiente. As pessoas precisam passar pelo processo de entender seus sentimentos e de tomar atitudes concretas para chegar no perdão.

Geralmente as pessoas que compartilham suas histórias conosco trazem que perdoar não fez que a dor desaparecesse por completo, mas que ela se torna muito mais suportável e que a mágoa apenas tornava a situação mais difícil.

No quesito científico, a evidência sobre a terapia do perdão é ainda anedótica. Mas estou convencido que nos casos em que o ressentimento é fator central da dor, seus resultados podem ser poderosos.

Processo de perdão em sobreviventes de abuso sexual

A pesquisador Suzanne Freedman estudou 12 casos de mulheres entre 24 e 54 anos que eram sobreviventes de incesto (abuso sexual pelos pais). Todas eram ansiosas e deprimidas e sofriam de baixo autoestima ao entrar no programa. Nenhuma havia perdoado o molestador. Os pesquisadores dividiram essas mulheres em dois grupos: 6 receberam instruções em como realizar o processo de perdão. 6 receberam terapia psicológica tradicional.

As que estavam no grupo do perdão melhoraram consideravelmente. Com o passar da terapia, os índices de depressão e ansiedade melhoraram muito, assim como a esperança e otimismo com o futuro. As 6 conseguiram perdoar os pais. Uma delas visitou pela primeira vez o túmulo de seu pai. Outra cuidou de seu pai durante câncer em estágio terminal. Após 1 ano, o grupo de tratamento tradicional não havia apresentado melhora. Os pesquisadores passaram a incluir o processo de perdão nas suas terapias. Após 14 meses todas continuavam demonstrando sinais importantes de melhora física e psicológica.

Você está pronto para se libertar da prisão emocional?

Ressentimento pode ser uma forma de manter o outro em uma prisão emocional. Enquanto o ofendido mantiver a raiva e a mágoa, o outro está preso em uma cela sem escapatória. O ofendido raramente percebe, no entanto, que se mantém preso junto ao ofensor.

Nos posts futuros, traremos algumas considerações acerca do processo de se chegar ao perdão. Convido você a dar um passo rumo a liberdade da raiva. Um processo que pode ser difícil, intenso e extremamente recompensador. Se a raiva está muito presente na sua vida, talvez seja o momento de descobrir o porquê.

Márcia ainda está presa no casulo emocional da raiva pelo irmão. Mas pela primeira vez ela começa a perceber que perdoá-lo pode ser sua única chance de continuar a viver. Concordo com Bishop Desmond,que, vítima de inúmeras injustiças, disse:

“sem perdão não há futuro”.

 

Obs- Márcia  é um nome fictício de uma paciente real, cuja história foi adaptada sob sua autorização com fins educacionais.

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2.551 comentários

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Lislaine 1 de maio de 2016 10:14

As pessoas só precisam do perdão para terem paz. Ótimo artigo!

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    Rodrigo Scalia 7 de maio de 2016 19:18

    Obrigado Lislaine! COnto com você para divulgar essas idéias. abraço

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Márcio Borges da Silva 4 de maio de 2016 13:17

olá Rodrigo, bom dia. Coincidência ou não, a verdade é que realmente também sinto muito raiva do meu filho. E, claro, acredito que tenho meus motivos. Mas, por outro lado, também tenho um grande sentimento de culpa por acreditar, com todas as minhas forças, de que não fui, e continuo não sendo um bom pai. Entendo ele perfeitamente, e, acredito que suas deficiências, são, na verdade, o reflexo de minha incompetência como pai e educador. Preciso, na verdade, me perdoar muito mais do que perdoá-lo, e, acreditar que mudanças são difíceis, más, a única forma de construir um futuro sustentável, desejado, e, quem sabe, de muito amor, carinho e cumplicidade.

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    Rodrigo Scalia 7 de maio de 2016 19:18

    Que feedback sensacional, Márcio. Teremos mais informações em seguida que espero que possam ajudá-lo a chegar lá. Esse processo é difícil mas fantástico, e quem o realiza se liberta de uma prisão muito ruim. Quem sabe o tipo de relacionamento pode ser construído sem essas amarras. Obrigado por comentar!

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Nilza 11 de março de 2019 14:11

Eu não consigo me perdoar. Meus deslizes estão tão presentes em mim,q suporto coisas q não deveria pela culpa q carrego. E isso me faz não me alegrar com a alegria de tantas pessoas q gosto, sou como a “Márcia” tenho raiva de guardar esse ressentimento, essa mágoa, de não ser feliz. Já perdoei muito no meu casamento, não cobro, atribuo os erros do meu marido à sua imaturidade, mas carrego um peso, não me acho merecedora de algo maior.

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