Se você está lendo esse texto, provavelmente você já é adulto e já repetiu a seguinte frase:
“seres humanos são muito difíceis de entender!”
Esse é um pensamento comum e também muito assertivo.
Entender seres humanos é uma tarefa muito, muito difícil! E posso afirmar certamente que, para conseguir entender pelo menos um pouquinho das motivações e atitudes de outras pessoas, você teria que dispor de um instrumento muito avançado, complexo e caro. Mas antes que você use essa informação para justificar a sua falta de paciência com as outras pessoas, saiba que esse instrumento já existe, já faz parte das suas aquisições e está inteiramente ao seu dispor: seu cérebro!
Desde muito pequeno seu cérebro já se esforçava para compreender as emoções e motivações de outras pessoas. Já nos primeiros anos de vida era possível pra você diferenciar uma bola de um ser humano. Isso parece uma coisa muito simples… Mas não é. Além das diferenças concernentes aos aspectos físicos, você também já sabia que se chutar uma bola ela vai sair rolando, mas se chutar um ser humano maior que você, além de ele não sair do lugar, ele vai dar uma resposta que é variável. Variável de acordo com o “ser humano chutado”. O que equivale a dizer que você sabia que as bolas sempre rolam quando chutadas, mas para aqueles seres grandes e falantes que você estava descobrindo, você teria que usar a habilidade de pensar sobre o que ele pode pensar se você chutá-lo e como ele vai reagir à sua atitude. E rapidamente você entendeu que algumas pessoas aceitariam o chute com um sorriso e outras poderiam ficar bravas ou até agressivas com você.
O nome dessa habilidade que seu cérebro tem é Cognição Social. Aos 10 a 12 meses de idade provavelmente você já reagia diferentemente às expressões faciais e vocalizações positivas e negativas das outras pessoas. Isso mostra que o seu cérebro se desenvolveu (assim como o cérebro de todos os outros seres humanos neurotípicos) priorizando também as tarefas relacionadas à interação social. E conforme os anos se passaram a sua cognição social melhorou.
Duvida? Então responda rapidamente: o que você pensou quando viu a foto da pessoa acima?
Que ela estava preocupada com alguma coisa séria ou com um grande problema para resolver, não é mesmo?
Isso é o que seu cérebro faz o tempo todo sem que você perceba: tenta adivinhar pela expressão facial do outro o que ele pode estar sentindo ou pensando. E assim molda a sua reação, com emoções ou atitudes, de acordo com o que o outro pode estar pensando ou sentindo. Após algumas experiências seu cérebro faz generalizações e você passa a reagir automaticamente. Qual será a sua atitude ao ver alguém assim tão preocupado como a pessoa da foto? Isso vai depender da sua genética, mas também das suas vivências ao longo da vida. A sua reação pode ser de uma atitude compassiva e de motivação para ajudá-la. Mas, se a sua interpretação for de que ela está preocupada com algo que você fez e que ela está pensando em uma maneira de te punir, pode ser que você fique agressivo ou queira sair correndo. É assim que seu cérebro trabalha sem que você perceba! O tempo todo.
Fica então algumas reflexões para que você possa me ajudar concluir esse tema em outros textos:
→ Será que é possível usar a cognição social através das mídias sociais?
→ Será que o nosso pessimismo com relação às pessoas está aumentando pelo fato de estarmos acompanhando-as muito mais pelas telas do que face a face?
→ Será que nosso cérebro é capaz de se adaptar a um mundo onde não será mais possível olhar nos olhos e “ler” o que o outro está pensando?
Aguardo você para a próxima discussão. E obrigada por ler até aqui!