É muita informação, não há como negar. Hoje somos soterrados o tempo todo por informação, sobre tudo, por todos os meios. Nada e ninguém escapa, em momento algum. Em uma época como a nossa, o mais importante é conseguir definir o que na verdade é o importante saber. Em alguns assuntos mais que em outros e saúde é um desses. Meus professores na faculdade de Medicina diziam, mesmo antes da internet ter provocado essa revolução e tornar o conhecimento e o desconhecimento tão disponíveis, que a maior habilidade que precisávamos aprender era como encontrar a informação importante no meio de tanta informação desimportante.
Quando o assunto é nutrição, a coisa fica feia, você já deve ter sentido. São milhões de dietas diferentes, alimentos milagrosos que evitam ou curam de tudo e que depois de um tempo matam implacavelmente sem nem perguntar quem era a vítima. Dependendo da lua, do tempo e da maré o ovo faz bem ou mal, café pode e não pode, pão vira veneno ou salvação. É pura confusão na cabeça de todos.
Se é difícil navegar por mares revoltos como esses, o que é importante colocar na bagagem sobre alimentação? O que é o importante que importa saber?
A coisa mais importante de todas que aprendi sobre nutrição, aquilo que mudou minha visão da alimentação, revolucionou minha forma de comer e entender a comida, uma verdadeira Revolução Francesa que me libertou da Bastilha das dietas da moda, foi que alimento não é só para dar energia. Sim, minha avó estava errada. A sua também. Não comemos só para “ficar de pé”, para ter “gasolina” para o “motorzinho do corpo” como sua desesperada mãe desesperadamente repetia no desespero que só mãe sente quando o filho não come direito. Quando passei a entender que alimento é estrutural e sinalizador molecular tudo mudou na minha cabeça. Foi quase uma iluminação (agora é hora de um kkkkkk ou rsssss como nas redes sociais; mas fora a brincadeira é quase uma verdade).
Você pode não ter entendido ainda. Mas vou explicar. Primeiro o nosso corpo todo, cada parte dele, todas as partes, do cabelo à unha do pé, é comida. Tudo o que somos é nutriente que comemos. Nada no seu corpo não é algo que você almoçou, jantou ou lanchou. Tudo que você é você comeu. Segundo é que tudo o que você coloca na sua boca e engole é uma mensagem para seu corpo, um recado, uma instrução biológica que vai fazer seu corpo responder de alguma forma mudando como ele funciona.
A importância tão importante dessas duas informações é que elas mudam nossa forma de pensar o que comemos todos os dias. Se a comida é o que constitui seu corpo então você deve ter atenção ao que você quer que faça parte de você. O seu cérebro por exemplo é composto em grande parte, além de água como todo o corpo, por gordura. E o tipo de gordura que você consome interfere no funcionamento geral dele. Mais ou menos proteína que você come garante mais ou menos massa muscular, que manterá seu corpo forte para resistir ao estresse físico e interfere também no quanto gasta de calorias por dia. A quantidade do cálcio influencia a densidade dos seus ossos. Outros metais fazem parte da estrutura de várias proteínas essenciais para seu corpo funcionar.
Todos os dias a vida “tira pedaços” de nós, o que pode parecer exagero mas não é se você lembrar o quanto você perde de você cortando cabelo e unha, na descamação da pele, por exemplo. Sem os nutrientes adequados seu corpo não consegue se reconstruir.
Mas para mim o mais fascinante é entender o alimento como sinal molecular. Cada nutriente que consumimos é uma mensagem que enviamos às nossas células alterando o seu funcionamento. As substâncias que formam os alimentos podem regular ou desregular como seu corpo funciona. E são milhares de substâncias em cada alimento. Algumas são anti-inflamatórias outras inflamatórias; algumas influenciam o funcionamento do cérebro alterando o humor, a concentração e o aprendizado. E o corpo reage ao que comemos liberando hormônios e isso pode mudar dependendo do horário.
O exemplo mais claro dessa função de regulação dos alimentos acontece em relação à atividade física. Após fazermos atividade física o efeito da ingestão de carboidratos e proteínas sobre a insulina e outros hormônios, e por consequência o ganho de massa muscular ou gordura, é bem diferente do que acontece quando ingerimos os mesmo nutrientes e não fazemos atividade física. É por isso que na dieta do atleta existe uma refeição pós-treino que deve ser ingerida nos minutos seguintes após o treino e muda a composição dos alimentos de acordo com o horário do dia ou o ciclo de treinamento ou competição.
Não é só no esporte que isso acontece. Podemos ver mudanças da resposta do corpo ao alimento em várias outras condições como o período do dia e do ciclo menstrual. Muda também dependendo do tipo de alimento e de quais nutrientes estão associados. Se o carboidrato é simples ou complexo, se as fibras são solúveis ou insolúveis, se o alimento está cozido ou cru, tudo pode mudar. A mensagem é outra, completamente outra.
A particularidade genética de cada pessoa também faz diferença. Duas pessoas vão reagir a um alimento de forma diferente. A dieta que serve para uma pessoa pode não servir para outra pela forma como ela processa o alimento. E o alimento também consegue regular a expressão dos genes e deixar marcas na nossa genética até em gerações seguintes, podendo contribuir para a saúde ou doença de nossos netos. Isso é chamado de programação metabólica.
Essa função reguladora do alimento sobre o organismo é, como já deu para perceber, muito útil. Podemos com esse conhecimento usar os alimentos como auxiliares no tratamento de várias doenças e condições. Em algumas podem ser até mesmo a melhor opção de tratamento.
Os alimentos não são apenas nossa energia. Eles formam nosso corpo e fazem ele funcionar diferente. Mais um motivo para aprender sobre o que é importante, por que é muito importante mesmo.