Quando falamos de infância, qual a primeira palavra que surge na sua cabeça?
Não dá prever exatamente em qual você pensou, mas é quase certeza que está associada a uma memória de felicidade, espontaneidade, risadas ou muitas brincadeiras. Afinal de contas “naquele tempo eu era feliz e nem sabia”.
Será mesmo?
Talvez essa não seja a mais legítima verdade, pelo menos não para todo mundo. Uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Psiquiatria aponta que aproximadamente 12,6% das mães relatam ter um filho com sintomas emocionais com necessidade de tratamento, e isso soma cerca de 5 milhões de crianças e adolescentes demonstrando problemas emocionais. Mais grave do que isso, é o fato de que, em geral, esses jovens demonstram mais de um problema.
A romantização da infância como uma fase na qual “não existem problemas”, e a ideia de que “tudo é só brincadeira” apenas prejudica ainda mais essas crianças e adolescentes – que passam sim por problemas e enfrentam dilemas (que podem nos parecer banais, do alto do nosso pedestal de adultos, mas não são).
Seja por nutrir essa ideia de que a infância é um mar de rosas ou pelo apego, muitos pais têm dificuldade de perceber que seus filhos possam estar passando por algum tipo de problema emocional. As consequências disso e do não tratamento são graves: as crianças se desenvolvem mal e podem se tornar adultos vulneráveis e com dificuldades emocionais.
Então é hora de desapegar dessas ideias e olhar com cuidado para os seus filhos.
Como eles têm se comportado, houve mudanças drásticas nos últimos tempos?
Eles têm demonstrado muita raiva, melancolia, tristeza (exacerbado qualquer emoção)?
Eles têm enfrentado problemas nas relações sociais, brigado e se isolado dos colegas, amigos e até mesmo da família?
Como eles têm dormido, a relação com o sono também mudou?
E a alimentação, eles têm comido além do normal ou deixaram de ter apetite, aparentemente sem motivos?
Você ouviu falar ou o pegou usando substâncias ilícitas ou álcool?
Eles têm agido de maneira desproporcional frente a pequenos conflitos do dia a dia?
Se você respondeu sim para todas essas perguntas, é hora de procurar ajuda.
Na maioria dos casos, o primeiro a perceber os indícios de que algo não vai bem com o jovem é o professor. No entanto, por medo da reação dos pais ou pelo peso do estigma que os transtornos mentais ainda carregam, às vezes preferem não indicar a consulta a um psiquiatra. Precisamos romper com essa ideia para que nossos jovens se tornem adultos saudáveis.
Agora que você já tem uma ideia geral dos indícios de problemas na formação psicossocial vamos falar sobre os principais transtornos mentais e emocionais da infância e adolescência.
Na infância:
TDAH
O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade pode ser percebido através da desatenção e distraibilidade, dificuldade em terminar tarefas ou em seguir orientações, desorganização e esquecimento (e até mesmo perda de coisas). Além disso, é muito comum que eles demonstrem muita inquietação, balançando cadeiras, mãos, pés, e a ansiedade não aparece só no corpo, a fala também se torna excessiva.
Transtornos do espectro autista (TEA)
Conhecido como autismo, na verdade se trata de um grupo de transtornos. Os sinais aparecem já nos primeiros meses de vida e os indícios disso podem ser percebidos através da dificuldade em manter contato visual, prejuízos sociais e de interação com os outros e com o mundo exterior. Além disso, portadores desse transtorno parecem não “ouvir” e não demonstram reações a brincadeiras.
Comportamentos repetitivos também são comuns ao quadro. Há vários subgrupos de TEA, com sintomas e características específicos, por isso o melhor é procurar um psiquiatra e um neurologista para o diagnóstico assertivo.
Transtornos Específicos do Aprendizado
Como o nome sugere, os transtornos de aprendizagem atrapalham (e muito!) a retenção de novos conhecimentos pelos pequenos. Eles podem demonstrar dificuldade para aprender a escrever, a ler ou a fazer contas matemáticas, por exemplo.
Em geral, apresentam resultados extremamente inferiores ao esperado pela faixa etária e pelo grau de escolaridade.
Acredita-se que a limitação tenha origem no sistema nervoso central.
Já na adolescência as dores e os conflitos são outros. Não é preciso nem mencionar as conturbadas transformações físicas, hormonais e emocionais característicos dessa fase… tudo isso, quando não administrado de maneira assertiva, se reflete em sobrecargas emocionais.
Então vamos aos transtornos mais comuns na adolescência:
Depressão
Atípica na infância, ela é três vezes mais comum em pessoas de 18 a 29 anos do que em idosos, por exemplo. Embora ela seja igualmente comum nos dois sexos, tem sintomas diferentes: nos meninos pode manifestar-se como rebeldia, agressividade e irritabilidade, nas meninas com isolamento, fobias e ansiedade.
Para diferenciar a tristeza normal da depressão é preciso observar se a pessoa sente a necessidade de “sumir”, de largar tudo. Muitos pacientes deprimidos preferem se isolar, enquanto outros procuram ocupar a cabeça ao máximo para não pensarem em sentimentos negativos.
Transtorno bipolar
Nesse caso, é comum que o jovem viva numa montanha-russa de emoções, oscilando entre a euforia e os períodos depressivos. Fácil distração, hiperatividade, aumento de energia, falar em excesso, autoestima muito alta, compulsão alimentar ou de bebidas alcoólicas e pouco controle de temperamento estão entre os principais sintomas.
Transtorno de ansiedade generalizada
É muito mais do que apenas uma sensação de angústia ou de aflição, nesse caso o adolescente vive uma “preocupação excessiva ou expectativa apreensiva persistente e de difícil controle”. Um dos critérios para o diagnóstico é que a situação perdure por, pelo menos, seis meses, com a presença de três ou mais sintomas: fadiga, irritabilidade, inquietação, tensão muscular, dificuldade de concentração, perturbação do sono e fadiga.
Família, agora está preparada para contribuir para o diagnóstico, tratamento e crescimento de um jovem adulto saudável?
Vamos juntos cuidar deles!
Fonte: Infância e Adolescência, PsiqWeb, disponível em http://psiqweb.net/index.php/infancia-e-adolescencia/