Se perguntassem a homens e mulheres se há esperança no casamento após infidelidade de um dos parceiros, a maioria responderia que NÃO – que o relacionamento acabaria em separação. Estudos demonstraram que isso não é o que acorre na prática. Apenas um terço dos casais que passam por episódio de infidelidade realmente se separam. Outros 33% se separam um tempo depois com a piora da relação e, o terço restante, são casais que resolvem sair bem da crise e lutar pelo casamento. Ou seja, enquanto muitos terão um término definitivo ou ficarão bem abalados, outros são capazes de assumir, aceitar a situação e mudar, para que a relação se torne até melhor que antes.
Pesquisas mostram resultados favoráveis para casais determinados a recuperar o amor após infidelidade. Através de uma abordagem terapêutica eficaz a grande maioria (mais de 90%) dos pares que optaram por Terapia de Casal, depois de enfrentarem algum tipo de infidelidade superaram o problema e sua relação foi beneficiada. Apesar da retomada de confiança ser extremamente difícil para os dois cônjuges, há esperança.
John Gottman, que é importante terapeuta e pesquisador sobre casais, afirma que uma primeira etapa do processo é conversar sobre a traição. Não vale a pena seguir em frente no relacionamento sem que isso seja realizado. Não há como sarar se o trauma não é processado. Ele faz uma analogia de que seria como se descobrisse um tumor durante uma cirurgia e suturasse o paciente sem removê-lo. Por isso, sugere uma abordagem chamada de método de revitalização da confiança: ajeitem, afinem e acrescentem.
Fase 1: ajeitem
A reconstrução da confiança não pode começar sem que o traidor expresse remorso constantemente, mesmo que o cônjuge demonstre ceticismo. É importante que o traidor se mantenha paciente, e não na defensiva, pois o ato com certeza estraçalhou tudo o que foi construído do relacionamento sensato e provavelmente gerou uma resposta de estresse pós-traumático. Assim, o cônjuge vai precisar de provas múltiplas de confiabilidade. Ao mesmo tempo, o traído não pode fechar as portas do perdão. Dessa forma o casal não vai conseguir resolver os conflitos. O esforço é de ambas as partes.
Construir um novo contrato será doloroso, mas o casal sai com nova compreensão, com aceitação, perdão e esperança crescentes. Deve seguir essas etapas:
– CONFISSÃO: Na presença do terapeuta, o traído deve fornecer respostas francas às perguntas sobre o caso de infidelidade. Parece estranho, mas não saber é pior do que saber. Uma pesquisa de Peggy Vaughan, com 1083 pessoas em fase de recuperação de infidelidade, quando o traidor concordou em responder as perguntas, o casal ficou junto em 86% dos casos. Se o traidor recusou responder, a taxa de sucesso do relacionamento foi de 59%.
– MUDANÇA DE COMPORTAMENTO, TRANSPARÊNCIA E VERIFICAÇÃO: A confissão não é suficiente. O comprometimento com a honestidade deve se estender. Isso significa dar ao cônjuge acesso a seus horários, celular e recibos de cartão. Pode parecer que a invasão de privacidade seja um exagero, mas é necessária. A confiança não será retomada sem evidências contínuas da fidelidade.
– COMPREENDAM O QUE ACONTECEU DE ERRADO: Os dois membros do casal precisam entender por que a traição ocorreu no relacionamento. Mas atenção, o objetivo é compreender o que deu errado e não transferir a culpa.
– EXPLOREM AS RAZÕES DO RETORNO DE QUEM TRAIU: O cônjuge que foi traído precisa de uma explicação clara do motivo que fez o traidor querer voltar, retornar e investir no casamento. O que está fazendo com que ele ou ela reconstrua o relacionamento?
– ESTIPULEM UM PREÇO ALTO PARA FUTURAS TRAIÇÕES: O traidor tem que aceitar que qualquer infidelidade futura vai causar o fim permanente do relacionamento. Estudos demonstram que a adição de algum fator forte desestimula outra traição, ou seja, há um preço catastrófico para qualquer mentira subsequente.
– COMECE A PERDOAR: É o ultimo passo dessa primeira fase. O cônjuge ferido aceita as desculpas do outro e começa a perdoá-lo. O perdão significa que o cônjuge traído está disposto a cooperar e confiar, mesmo diante da incerteza e deslizes do outro.
Fase 2: afinem
Após sair da fase de ajuste com um início de perdão, o casal se une para construir um relacionamento. É preciso conhecer o cônjuge e “se conhecer”. Além disso, é importante reaprender a lidar com conflito de modo que não sobrecarregue e crie nova distância.
Como parte do “novo compromisso”, o casal vai público para as pessoas mais próximas e essa divulgação ajuda a estabelecer o novo relacionamento como algo “real”.
Fase 3: acrescentem
Após a traição, a vítima geralmente não quer arriscar uma intimidade física com um cônjuge que errou. Mas se o casal está determinado a permanecer juntos, a habilidade de se afinar também tem que chegar à cama. No amor duradouro, a intimidade sexual é fundada sobre uma interdependência saudável que satisfaz o desejo de se conectar.
Afinal, existe casamento após traição?
Pode ser que sim. Depende do casal. É uma jornada difícil, mas muitas vezes uma que vale a pena ser percorrida.