Com quantos anos você teve a sua primeira menstruação?
Se você já discutiu isso com suas amigas e, principalmente, com outras mulheres mais velhas do que você, com certeza já percebeu a tendência clara de que a menarca tem acontecido cada vez mais cedo.
Mas não se trata apenas de “achismos”, um artigo publicado na Nature, uma das revistas cientificas mais respeitadas em todo o mundo, trouxe para discussão os possíveis “porquês” desse declínio.
Por que falar disso? Especialistas e estudos sugerem que a puberdade precoce não é boa para as crianças por várias razões. Nas mulheres, por exemplo, está associado a um aumento de certos tipos de câncer – mama e útero, em particular.
Antes de qualquer coisa, você sabe o que é a puberdade?
A puberdade avança através de cinco estágios de maturação física, conhecida como estagiamento de Tanner. Mas em termos práticos, podemos dizer que, em ambos os sexos, se trata da fase da vida em que os pelos pubianos aparecem e depois mudam de cor e distribuição até se espalhar para as coxas. Mais ou menos na mesma época, os mamilos das meninas ficam elevados. Nas meninas, a menstruação começa tipicamente no penúltimo estágio de Tanner.
Mas por que elas estão ficando “mocinhas” mais cedo?
As tendências para o norte da Europa mostram uma idade média de menarca de 16 anos no início da década de 1850; no início do século XX, havia caído abaixo de 15; agora acontece por volta dos 12 anos e meio.
O declínio da idade menstrual diminuiu desde meados do século XX nos países desenvolvidos, mas o início da puberdade, continuou a aparecer mais cedo. Consequentemente, a puberdade começa agora mais cedo e dura mais tempo. Geralmente começa aos 9 ou 10 anos de idade, mas às vezes até 6 ou 7 anos.
Ou seja, a puberdade que, normalmente, dura de dois a quatro anos, nas meninas, pode passar por um processo compensatório que amplia o processo de maturação em quem inicia a puberdade precocemente, fazendo com que a puberdade dure até seis anos.
Deixando de lado a introdução do assunto,
vamos a algumas explicações dos “porquês”:
Prematuridade
A nível populacional, parte da explicação para a puberdade precoce está no aumento da sobrevida de bebês prematuros – que tendem a passar pela puberdade mais cedo – segundo o artigo da Nature.
Segundo o compilado da revista cientifica, esse início precoce parece estar relacionado a uma rápida recuperação do crescimento pós-natal, com bebês prematuros tendo níveis circulantes de andrógenos mais altos na primeira infância.
Mas vários efeitos que ocorrem em um nível individual também alimentam a tendência, confira a seguir.
Olho na balança
Isso mesmo, a abundância de comida é uma das principais suspeitas nesse processo.
A descoberta histórica vem de um relatório de 2003 . Se trata de uma análise transversal de crianças de uma comunidade rural da Louisiana que analisou mais de 1.100 garotas em 9 anos de idade e novamente em 26 anos de idade.
Cada aumento de desvio padrão no índice de massa corporal infantil aos 9 anos de idade foi responsável para dobrar as chances da menina iniciar a menstruação antes dos 12 anos.
O mecanismo por trás desse efeito parece estar relacionado à leptina – um hormônio que sinaliza a saciedade. A leptina também promove a liberação de kisspeptina (proteína que, quando liberada pelo cérebro, dispara a cascata de alterações bioquímicas que levam à puberdade), então quanto mais gordura uma menina tem, maiores são os níveis de leptina e kisspeptina – e, portanto, mais cedo ela entra na puberdade.
Mas, novamente, a obesidade sozinha não explica todos os casos de puberdade precoce. Existem várias maneiras pelas quais a vida moderna pode impedir o desenvolvimento.
Luz
A melatonina, um hormônio que o corpo libera na escuridão, é conhecida por suprimir a kisspeptina. Ou seja, mais exposição à luz – incluindo luz artificial – mantém os níveis de melatonina baixos e resulta em mais kisspeptina (como citado anteriormente, proteína que, quando liberada pelo cérebro, dispara a cascata de alterações bioquímicas que levam à puberdade), e assim pode promover a puberdade precoce.
Um fato que apesar de óbvio se pensarmos nessa teoria, mas que mesmo assim não deixa de ser curioso é que as crianças que moram perto do equador recebem a mais luz natural durante a infância, como resultado, eles passam pela puberdade mais cedo do que as crianças que moram perto dos polos – mesmo aqueles com o mesmo background genético.
Químicos
Outro fator é a gama de produtos químicos disruptores do sistema endócrino em nosso meio ambiente. Retardantes de chama em tecidos, bisfenol A (BPA) em plásticos e alimentos como laticínios, soja e carne vermelha estão na lista de suspeitos.
O fumo do tabaco, embora não seja amplamente visto como um disruptor endócrino, pode estar tendo efeitos semelhantes devido ao seu conteúdo de cádmio – a exposição pré-natal está associada a uma menor idade da menarca.
Fatores psicológicos
Mas o que isso tem a ver com saúde mental? Dentre todos esses outros fatores, como nascimentos prematuros, obesidade, exposição a fatores químicos e até mesmo exposição a luz (solar e artificial!), o psicológico também desempenha papel significativo na determinação da puberdade.
Assim, um estudo longitudinal de 23 anos descobriu que as meninas que sofreram abuso sexual por volta dos 7 ou 8 anos de idade passaram pela puberdade mais cedo do que as meninas que não passaram por tais abusos. Acredita-se que o mecanismo esteja relacionado à resposta fisiológica ao estresse, que afeta os níveis hormonais através do eixo hipotalâmico-hipofisário-adrenal.
Além disso, segundo os pesquisadores, há um pequeno efeito de conflito familiar na puberdade acelerada em meninas. Fatores como maior grau de afeto entre mãe e filha e maior tempo com os pais antes de se matricular em creches na idade do jardim de infância também estão ligados a um momento posterior da puberdade.
A pergunta que pode ficar após toda essa discussão é:
Então, quando é a idade “certa” para ter a primeira menstruação? Mas não existe um número específico para isso.
O ideal seria que ela acontecesse no mesmo momento em que a de amigas e/ou colegas, já que isso pode poupar certos constrangimentos e dificuldade de aceitação diante das transformações precoces ao perceber que os demais colegas ainda não estão passando pela mesma fase.
No entanto, essa não é uma situação controlável (salvo exceções aquelas situações em que há necessidade de intervenção medica e uso de medicação). O melhor a se fazer nesses casos é investir em educação, explicar o que são tais transformações corporais e porque elas ocorrem, para que a menina esteja preparada quando a primeira menstruação ocorrer.