O cérebro é um órgão verdadeiramente incrível. O seu funcionamento é baseado em alguns princípios muito interessantes. O primeiro é que seu funcionamento é elétrico. Os neurônios geram eletricidade o tempo todo e é através dela que as informações entre eles são transmitidas. Em segundo lugar o cérebro funciona usando redes de neurônios. As diversas regiões do cérebro trabalham em conjunto, estimulando ou inibindo outras. Por fim é um órgão plástico, o que quer dizer que ele muda para se adaptar aos desafios que colocamos a ele.
Os transtornos mentais são entendidos hoje como alterações dessas redes neurais que passam a funcionar mal gerando alterações das emoções e do comportamento. Por isso uma dos mais interessantes e promissores campos de pesquisa e tratamento em psiquiatria é o da neuroestimulação.
A neuroestimulação consiste em estimular ou inibir as redes neurais utilizando corrente elétrica ou magnetismo. A passagem de corrente elétrica pelo cérebro induz modificações no funcionamento das regiões, na liberação dos neurotransmissores e na plasticidade. O magnetismo consegue o mesmo resultado por que ele induz uma corrente elétrica nos neurônios no local onde é aplicada.
A primeira técnica de neuroestimulação utilizada em psiquiatria foi a eletroconvulsoterapia (ECT). Nessa técnica, ainda hoje utilizada e considerada um dos mais eficientes tratamentos para transtornos mentais graves, a corrente elétrica é usada para induzir uma pequena crise convulsiva que provoca alteração no funcionamento cerebral e reorganiza a liberação de neurotransmissores.
Depois da ECT foram desenvolvidas a Estimulação Magnética Transcraniana (EMT) e a Estimulação Elétrica profunda (EEP). Na EMT o princípio utilizado é o do magnetismo produzido por uma bobina elétrica que é aplicada sobre o local desejado na cabeça do paciente. A EEP funciona através do posicionamento de um estimulador elétrico dentro do cérebro, modulando regiões específicas, como se fosse um marcapasso. É uma técnica ainda muito cara e exige neurocirurgia para colocação do aparelho.
Uma outra opção muito interessante e que tem chamado muito a atenção dos pesquisadores e médicos por sua facilidade de aplicação, preço mais baixo que das outras técnicas, pouquíssimos efeitos colaterais e bons resultados, é a Estimulação Elétrica por Corrente Contínua, conhecida por sua sigla em inglês tDCS. Na tDCS uma pequena corrente elétrica, quase imperceptível, é aplicada no crânio do paciente em áreas específicas também com a intenção de modular as regiões cerebrais de interesse.
A tDCS já foi avaliada para o tratamento de diversos problemas de saúde. Entre aqueles que ela mostrou bons resultados estão a depressão, dores crônicas como a fibromialgia, reabilitação motora após acidente vascular cerebral e dependência química. Existem também protocolos para o tratamento de alterações cognitivas, na melhora do desempenho em matemática, aprendizado de línguas, melhora da atenção e da compulsão, por jogo e comida por exemplo, zumbido no ouvido e doença de Parkinson. Os resultados das pesquisas mostram que ela pode ajudar até mesmo a melhorar a resposta produzida pelos antidepressivos.
A neuroestimulação é uma opção de tratamento muito interessante e pode ajudar a melhorar a resposta que conseguimos com os tratamentos atuais baseados em medicação e psicoterapia completando o arsenal terapêutico disponível para o enfrentamento dos transtornos mentais.