Se você foi uma criança considerada “levada” sabe que nem sempre esse é um adjetivo positivo e que, às vezes, vem acompanhado de umas palmadas.
Esse assunto das palmadas é controverso, há quem diga que foi educado dessa maneira e que não vê nenhum mal, mas também há quem entenda que violência não combina com educação.
De fato, acreditamos que a melhor forma de educar é através do diálogo. E dizemos isso com base em estudos que dão o respaldo científico para tal postura. No entanto, o tema é complexo, já que ninguém recebe um “manual” durante a gestação para descobrir “como ser pai/mãe”. Portanto, deixamos claro, antes de nos aprofundarmos no assunto, que não estamos romantizando a maternidade ou paternidade, sabemos que, muitas vezes, devido ao cansaço causado pela demanda constante de atenção das crianças e a falta de apoio fica difícil controlar o estresse e um grito acaba escapando, uma palavra mais agressiva…
Mas tome cuidado, estudo indicam que falar aos berros com uma criança tem o mesmo efeito de bater, e pode desencadear problemas de comportamento.
E tudo é ainda mais grave quando se tratam de punições físicas severas e maus-tratos. Um estudo expressivo, que analisou o comportamento de 36 309 adultos mostrou que esse tipo de tratamento durante a infância é responsável por aproximadamente 45,5% dos comportamentos antissociais entre os homens nos Estados Unidos e 47,3% dos comportamentos antissociais entre as mulheres nos Estados Unidos.
Nesses casos, não se trata apenas de uma palmada ou outra para alertar a criança de que sua atitude está errada, mas de uso de violência. E, vale lembrar que até mesmo as “inocentes palmadinhas” são proibidas por lei no país. A Lei da Palmada (nome informal da lei nº 13.010/2014) proíbe o uso de castigos físicos ou tratamentos cruéis e degradantes contra crianças e adolescentes no Brasil.
Não existe formula mágica para afastar o estresse envolvido na responsabilidade de educar. Mas existem formas de repensar os métodos que você usa para isso.
Por exemplo, você já ouviu falar da comunicação não-violenta? O conceito criado pelo psicólogo Marshall Rosenberg pode ajudar você a reformular suas atitudes e, de quebra, se aproximar mais dos seus filhos, já que propõe uma postura empática para entender o outro e expressar suas próprias necessidades com clareza.
Como fazer isso?
Entenda que o choro. O choro é uma forma da criança dizer que algo não vai bem, mesmo sem saber como fazê-lo. Tenha em mente que a criança não sabe expressar suas emoções (por isso você precisa nomear sentimentos), e o choro e/ou birra é a forma dela dizer o que sente, isso inclui dor, raiva, tristeza, frustração, etc.
Atenção no mau comportamento e birra , eles podem significar uma falta de conexão entre você e seus filhos. Veja, retomando o conceito anterior, a criança não sabe como expressar a necessidade que possui de atenção, assim, frustradas e sem saber como agir, faz birras, rabisca paredes, bagunça as coisas e faz exatamente o que você pediu para que não fizesse, afinal, assim conseguirá sua atenção. Mas nem por isso o mau comportamento deve ser aceito, apenas compreendido e corrigido.
Nomeie sentimentos. Resumindo tudo que dissemos nas dicas anteriores: as crianças precisam aprender a expressar suas emoções de forma clara, caso contrário, continuarão agindo de forma instintiva e “incômoda” para você, que também não consegue entender “onde está errando”.
Tome o seu tempo, afinal, nem sempre dá para reagir com calma às situações criadas pelas crianças. Então, para não agir de forma violenta, com gritos ou agressões, expresse com clareza para a criança que você se irritou e, por isso, precisa se afastar, mas que voltarão ao assunto depois, em um momento em que já tenha se acalmado.
Essas são apenas algumas dicas simples e palpáveis, você encontra muito mais em uma simples busca por “comunicação não-violenta” no Google ou em alguma livraria. Então fica a dica, existem muitos livros que abordam a comunicação e a educação não-violenta.
Além disso, você também conta com o apoio de nossos profissionais para acompanhamento psicológico e terapia familiar.
As vezes precisamos nos reeducar para educarmos os filhos da forma como desejamos e eles merecem.
Fontes: Revista Crescer
Afifi TO, et al. Associations of Harsh Physical Punishment and Child Maltreatment in Childhood With Antisocial Behaviors in Adulthood. JAMA Netw Open. 2019;2(1):e187374. doi:10.1001/jamanetworkopen.2018.7374