Controlar a nós mesmos pode ser mais importante que controlar o estado islâmico.
Depois do atentado terrosrista em Paris pudemos ver uma enxurrada de opiniões das mais diversas em redes sociais, e os governos de todo o mundo jurando “uma resposta sem misericórdia” como disse o presidente da França, a todo o estado islâmico. Nas redes sociais e nos comentários de qualquer jornal acompanhamos o ódio crescente à religião muçulmana e seus seguidores.
É claro que reações intensas são esperadas após grandes catástrofes e atos tão violentos.
Mas será que responder assim é a melhor maneira?
Não sou nenhum especialista em ciências políticas pra pensar no macro. Mas as neurosciências podem nos dar algumas dicas importantes que podem ser valorizadas.
O que fica mais claro dessas últimas décadas ” lutando” contra o terrorismo é que a estratégia atual não tem funcionado, ou pelo menos tem sido insuficiente. Nem os esforços de “de-radicalizar” os estudantes islâmicos, nem o suporte aos opositores dos regimes islâmicos e nem os esforços de ganhar as “mentes e corações” daqueles que dão suporte ao islã.
A razão para o insucesso dessas ações é o mesmo do insucesso de brigas em relacionamentos: estamos principalmente focados no que fazer com “eles” (os terrosristas) e muito pouco no que fazer em “nós” ( As vítimas potenciais de terrorismo).
Como assim?
Um dos principais objetivos de ataques terroristas assim é polarizar todos os não-muçulmanos contra os muçulmanos. Esse ódio crescente atinge dois objetivos desejados pelos radicais: aumenta a intervenção militar ocidental no oriente, o que aprofunda o ressentimento islâmico contra o oeste e, segundo, aumenta o preconceito contra essa população, isolando jovens islâmicos em todos os países ocidentais.
Populações decontentes são bem mais propensas de apoiar o estado islâmico e os atos terroristas.
Então como reagimos aos atentados de Paris vai ter uma influência enorme em cmo e quant eventos assim podem se repetir.
explicando:
Estudos realizados na Emory University mostraram que a parte do nosso cérebro que responde às questões “uteis” (custo x benefício) são bem diferentes daquelas envolvidas em ” valores sagrados” (Absolutamente certo x absolutamente errado). E essas duas partes são bem desconectadas e aí está o problema.
Por exemplo, quando enfrentamos decisões como “Quanto de dinheiro você aceitaria para parar de beber refrigerante” são ativadas àreas como o córtex Parietal Inferiror Direito. Mas quando é perguntado “aunto dinheiro seria necessário para maarmos uma pessoa inocente” outras áreas como a junção temporoparietal e a amígdala são ativadas.
Em outras palasvras, nenhuma quantidade de análise de custo/benefício vai mudar nossas resposta intensa a crenças fundamentais, como ” os terroristas são maus e devem todos ser mortos”.
Então quando respondemos a terrorismos, nossa área de “valores sagrados” tende a ignorar questões lógicas de custo xbenefício como: “quantas vidas serão perdidas no aumento da intervençãomilitar no oriente?” ou “Qual o benefício que o dinheiro investido nessa campanha militar poderia causar se investido em outras áreas?” ou principalmente: “essas ações militares realmente funcionam?”
Esses ataques fazem com que as crenças fundamentais ligadas aos terroristas – e por associação a todos os muçulmanos – reforçadas e ainda mais fortes. E isso muda as nossas atitudes conscientes e inconscientes para com eles.
E todos os islâmicos do ocidente vão sentir isso.
E se alguns se tornarem mais radicalizados, os terroristas ganham.
Ganham duas vezes, se os ataques militarem no oriente aumentarem a simpatia pelos atos terroristas.
Ganham três vezes com a alienação dos muçulmanos no ocidente.
Ganham quatro vezes quando nossos preconceitos são passados pros nossos filhos.
Uma pesquisa da Dra Eva Telza mostrou que as partes do nosso cérebro que fazem a distinção entre “nós”x “eles” não respondem automaticamente e insconscientemente até os 14 anos de idade. Isso quer dizer que quem faz parte do “nós” e do “eles” é adquirido com nossos valores culturais e podem ser modificados até a puberdade.
Então as mensagens que passamos pros nossos filhos vão alterar profundamente quem eles empacotam dentro do “Nós” x “eles”.
Se os ataques terrosristas aumentarem a quantidade de crianças que empacotam todos os muçulmanos como “eles” que precisam ser derrotados, os terroristas atingem seu objetivo à longo prazo.
Talvez a única maneira de conseguirmos interromper esse ciclo vicioso é resistir ao impulso de condenar todos os muçulmanos e à tentação de reagir exageradamente com intervenções militares. Talvez a única forma seja balancear atitudes externas com atitudes internas (temperando nossas opiniões e atitudes).
Talvez a unica maneira de manter o terrorismo sob controle seja manter os olhos no espelho.