Se o espírito estiver verdadeiramente pleno, talvez a carne não seja tão fraca.
Vejamos se essa afirmação é verdadeira nos jovens.
A adolescência é um período de modificações biopsicossociais em que o jovem em formação está redefinindo seus papéis e funções. Nessa fase, há maior vulnerabilidade, com exposição a situações de risco, incluindo doenças sexualmente transmissíveis, delitos e uso de substâncias psicoativas – as drogas. No texto de hoje vamos mostrar a importância da espiritualidade/religiosidade (E/R) para o desenvolvimento e saúde humana, especialmente dos nossos jovens.
Tanto na infância quanto na adolescência, os seguintes fatores destacam-se como fatores protetores contra os transtornos de uso de substâncias psicoativas: estabelecimento de laços afetivos na família, monitoramento das atividades e amizades, construção de conduta social adequada, forte envolvimento com atividade escolar e/ou religiosa, informações sobre o uso de drogas e estabelecimento de uma meta ou plano de vida. Assim, a concepção de E/R tem sido associada com maiores índices de melhora e recuperação, configurando, assim, um significativo fator de proteção.
Por que a vivência da E/R pode ser protetora e até mesmo preventiva? Pois os conceitos que aprendemos dentro de uma conduta religiosa e da espiritualidade auxiliam na construção da nossa personalidade, inspirando valores morais, como o respeito e a preservação da vida, e promovendo comportamentos saudáveis e de busca de apoio social e autovalorização.
O impacto da E/R nos jovens especificamente já foi discutido sob o ponto de vista científico, revelando sua influência no início do uso, redução do mesmo e até abstinência de substâncias psicoativas. Em um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Akron, Case Western Reserve University (CWRU ) e Baylor University, pesquisadores mediram “experiências espirituais diárias” independentemente de “crenças e comportamentos religiosos”, que incluíam sentimentos relatados de uma presença divina, paz ou harmonia interna, e abnegação e benevolência para com os outros e, ao mesmo tempo, cruzavam os resultados com os dados toxicológicos durante o tratamento de abuso de drogas em jovens.
O aumento da espiritualidade nestes adolescentes submetidos ao tratamento se mostrou associado a maior probabilidade de abstinência, aumento dos comportamentos sociais positivos e redução do narcisismo. A recíproca também pareceu verdadeira, visto que embora 30% dos adolescentes tenham se identificado como agnósticos ou ateístas no início do tratamento de abuso de substâncias psicoativas, 60% relataram uma identidade espiritual no momento da alta. Ou seja, se a espiritualidade previne o começo de um vício, ela também aumenta após a batalha contra ele, provavelmente pela sensação de vitória sobre uma condição de dependência.
A conexão entre espiritualidade e juventude é salutar e caminha rumo à plenitude.
Fontes:
Granjeiro, AL; Almeira, PA. A espiritualidade/religiosidade como fator de proteção contra uso de substâncias psicoativas na adolescência. Revista Debates em Psiquiatria, 2017.
LEE, MATTHEW T. et al. “Daily Spiritual Experiences and Adolescent Treatment Response.” Alcoholism treatment quarterly 32.2-3 (2014): 271–298. PMC. 2018.