Ultimamente, tem me chamado atenção a quantidade de pais e mães apavorados e angustiados por vivenciarem dificuldades para educarem seus filhos ou até mesmo para simplesmente estarem na companhia deles, devido a grande rivalidade e a convivência desgastante que se estabelece no grupo familiar. É comum observar pais com sentimento de culpa, dúvida e insegurança em relação ao próprio posicionamento diante do que podem, devem ou não fazer por seus filhos.
As queixas mais apresentadas são comportamentos sociais inadequados, agressividade, ameaças, insultos e ações que colocam os pais como reféns.
Quando se depara com situações dessa natureza a questão que se coloca é: o que está acontecendo com esses jovens? Será que os pais não estão exercendo seu papel adequadamente?
O comportamento dos pais e dos filhos na atualidade vem sofrendo várias transformações e as relações ficando distantes e superficiais. As causas são muitas: o celular e a rede social, cuidado delegado a terceiros, o excesso de trabalho, o consumo desenfreado, o modelo de relacionamento, o não acompanhamento dos filhos, a terceirização da educação. Em especial, o acesso à internet também se mostra como um problema grandioso para as famílias. A proibição não é recomendada, mas o uso deve ser muito bem monitorado, principalmente na infância. Uma criança que fica tempo demais na internet pode se transformar em um adolescente fechado, com dificuldade para interagir socialmente.
A atitude dos pais com os filhos acontece de duas maneiras: por via do autoritarismo ou através de ações permissivas.
A primeira é uma imposição, é colocada, inicialmente, de forma inflexiva e rígida, que também acaba sendo inadequado porque não leva em consideração a outra parte envolvida. A segunda atitude tudo é permitido, não tem questionamento e nem limites. Portanto, há pais que se abstêm da tarefa de educar por considerarem que sendo assim, não atrapalham o desenvolvimento de seus filhos. E também por não serem vistos como autoritários.
Por outro lado, ofertar autonomia aos filhos não significa deixá-los livremente às suas vontades, visto que, além de caracterizar descuido com os filhos, expressa comportamento de abandono por não orientá-los à equilibrada liberdade de escolhas. Há pais e mães que se aproximam de seus filhos agindo como bons amigos apenas, deixando aí uma perigosa lacuna, sem a presença de uma figura para exercer o papel desses pais. Sem duvidas, é algo arriscado pois o jovem precisa de orientações adequadas e seguras e ao mesmo tempo uma pessoa forte para realizar esta tarefa. Os filhos necessitam também de alguém que tenha condições de repreendê-los quando cometerem erros e contribuir para que torne pessoas capazes de respeitarem bem a si próprio e as outras pessoas.
É importante deixar claro que a defesa aqui não é favor de prática de maus-tratos contra a criança ou o jovem, mas um ato afetivo que se transmite ao filho com base nos limites colocados pelos pais. Essa é uma função muito importante no processo educacional. Educar é também frustrar; é dizer não e contrariar a vontade do filho, quando necessário. Não há como escapar disso, sob pena de o próprio filho sofrer as consequências em sua saúde física e mental. Não há como ser bom pai ou boa mãe só esperando serem amados por seus filhos.
É preciso, muitas vezes, suportar a frustração de ser odiado por seu filho num dado momento, para o próprio bem dele no futuro, ainda que isso, na maioria das vezes, custe muito caro aos corações dos pais e mães.
Nesse sentido, tem muitos pais que pecam justamente ao colocarem limites para seus filhos. Há aqueles que se perdem em justificativas como se estivessem pedindo perdão por terem de estabelecê-los. Fazem mil rodeios, ficam intimidados e não agem com segurança e nem firmeza. Quando tentam não são ouvidos ou não são levados a sério.
É comum na adolescência, os filhos se distanciarem do grupo familiar e lançarem–se na busca de outros grupos, novos companheiros. Essa busca é importante, pois é através dela que o jovem vai em direção de sua própria identidade. Trata-se de um momento fértil, o fascínio está no outro, na descoberta, no diferente. Portanto, é comum que haja esse afastamento, mas não deve ser uma ruptura, uma vez que eles se interessam mais por estar com outros jovens da mesma faixa etária, dividindo interesses e visões de mundo.
Mas, alerto: tem sido muito frequente os jovens afastarem de maneira exagerada de seus pais, gerando com isso, um mal-estar, sentimentos de impotência, raiva e desconhecimento do que fazer. Portanto, o diálogo dos pais com filhos, principalmente os adolescentes, é o fundamental. Pois é através dele que estabelecemos acordos, tentamos lidar com os conflitos e impasses, estabelecemos o cuidado, afetividade e o respeito mútuo.
Há casos que a aproximação torna-se insustentável ou a família mostra-se perdida e não sabe o que fazer. Nestas situações será muito importante procurar ajuda profissional.
Nós, da Pleni, estamos aqui para ajudar a você e a sua família. 😉
Autor: Evaldo Nunes – Psicólogo especializado em Clínica Psicanalítica (UFU)