Preocupar-se tem uma função. Quem se preocupa está tentando reduzir a ansiedade relacionada a um problema achando soluções. Mas em grande parte das vezes não funciona e apesar disso continuamos a nos preocupar. O que está acontecendo? Qual o problema?
Uma das coisas é a crença de que preocupar vai ajudar. Que a atitude responsável diante de qualquer problema é ficar preocupado e se você não o fizer e algo der errado vai ter sido culpa sua. Uma mudança importante para se livrar das preocupações é aceitação. Do quê? De que existem muitas, inúmeras coisas que não estão no nosso poder. De que é impossível controlar toda a realidade e de que várias vezes a solução de uma situação difícil não depende de nós. No fim, aceitar que a realidade é incerta. Para pessoas preocupadas aceitar a incerteza é muito desconfortável e dá uma sensação grande de impotência. Aceitar esse “descontrole” é angustiante. Mas vamos observar a realidade com sinceridade. O que está mesmo sob o nosso controle? Só por que eu não posso controlar isso ou aquilo eu sou irresponsável?
Essa não aceitação da realidade também tem outro lado que é não aceitar as limitações pessoais. Quantas vezes você não se viu preocupado com coisas que “deveria” fazer, ser ou ter? Que você devia ter isso, ganhar tanto, ser de tal jeito, etc, etc, etc. Você e qualquer ser humano na Terra tem limitações em várias áreas e isso não faz de você uma pessoa pior que as outras.
Então um passo fundamental para trabalhar as preocupações é estar mesmo no mundo real, não só saindo do mundo dos pensamentos como discutimos no texto anterior, mas também “caindo na real”. A partir dessa aceitação podemos fazer um compromisso com a mudança. Já que ter certeza absoluta é impossível, resistir a esse desejo. Já que existem coisas que não controlo, me dedicar apenas àquelas que posso, e valha a pena, mudar. Existem preocupações que valem a pena. Você precisa julgar quais coisas estão mesmo sob seu controle e quais preocupações são inúteis. Se pergunte: essa preocupação vai modificar alguma coisa? Tem alguma coisa que eu possa fazer de concreto que possa mudar o rumo dessa história? Se tem, faça. Se não, aceite. Vai doer? Vai mas você vai aprender a se concentrar só no que faz diferença.
Já experimentou escrever sua preocupação em um papel? Você deveria. É uma experiência interessante. Escreva a preocupação e depois tente ver qual o plano de ação concreto para resolver. O que imediatamente posso fazer para resolver essa preocupação? Se não encontrar, pode esquecer. Essa é uma preocupação que você vai ter que aceitar.
Aceitar a vida como ela é parece que aumenta a impotência mas não é o que acontece. A impotência já existe para muitas coisas, aquelas que ninguém controla e nem deveria querer controlar. Mas podemos descobrir que temos condição de fazer um monte de outras coisas se paramos de gastar nossa energia em problemas sem solução. A Terapia de Aceitação e Compromisso chama isso de “desesperança criativa”: você desiste do que precisa desistir e vive plenamente onde deve viver, encontrando solução para o que tem solução.