Se você não gosta de tomate não viaje para a Espanha em agosto. Ou pelo menos não vá à região da Valência. Nessa época tomates viram armas, você pode levar uma tomatada na cabeça. É a tomatina, a guerra de tomates que acontece em Buñol. Mais de 30 mil pessoas atiram tomates uns nos outros. Repito: se você não gosta de tomate não vá para a Espanha nessa época.
O tomate é uma das novidades descobertas pelos espanhóis quando vieram para a América dos Astecas, junto com o milho, a batata, o tabaco e o chocolate. As viagens de conquista do Novo Mundo fizeram uma revolução culinária. O tomate foi muito bem recebido. Na salada, no molho, fresco, seco, ele é um grande companheiro na culinária.
Mas não é só pelo sabor que o tomate faz a diferença. A sua cor guarda um grande segredo: o licopeno. Esse carotenoide, que dá a cor avermelhada do tomate, goiaba e melancia, é uma arma poderosa contra os radicais livres que danificam o nosso DNA, proteínas e lipídios e nos envelhecem e adoecem 1.
Esse grande poder antioxidante fez com que cientistas em vários lugares do mundo questionassem que o tomate poderia nos proteger de doenças. Estudos epidemiológicos mostraram que quanto maior o consumo de tomate menor o risco de vários problemas de saúde como hipertensão, diabetes e doenças do coração. Apesar de ser necessário mais estudos para definir o poder protetor do licopeno nessas condições, uma das ações dessa substância está cada vez mais certa: proteção contra o câncer de próstata.
Como podemos ter certeza disso? Pesquisadores reuniram mais de quarenta estudos realizados em todo o mundo em uma revisão sistemática com meta-análise. Esse tipo de estudo científico é o que produz resultados mais confiáveis porque é a soma de várias pesquisas. Nesse estudo, publicado na revista Prostate Cancer and Prostatic Disease, foi verificada uma relação entre o consumo de licopeno e a ocorrência de câncer de próstata. Para cada 2mg a mais de licopeno consumido ocorreu uma redução de 1% no risco deste tipo de tumor2. Outra meta-análise mostrou uma redução de 3% para cada 1mg consumido 3.
O licopeno, junto com outros carotenoides, parece também ser interessante em uma condição cada vez mais comum, a esteatose hepática, quando o fígado é invadido por gordura e pode levar a cirrose 4.
O tomate saiu da América, invadiu a Europa e nossos pratos. E pode nos ajudar muito mais com sua cor vermelha. Ele pode ser uma boa arma na prevenção de doenças. Depois disso, se você não gosta de tomate, considere gostar de goiaba, melancia, pimentão vermelho… Mas não visite Valência em agosto!
- Petyaev, I. M. Lycopene Deficiency in Ageing and Cardiovascular Disease. Oxid. Med. Cell. Longev. 2016, 1–6 (2016).
- Rowles, J. L., Ranard, K. M., Smith, J. W., An, R. & Erdman, J. W. Increased dietary and circulating lycopene are associated with reduced prostate cancer risk: a systematic review and meta-analysis. Prostate Cancer Prostatic Dis. (2017). doi:10.1038/pcan.2017.25
- Wang, Y., Cui, R., Xiao, Y., Fang, J. & Xu, Q. Effect of Carotene and Lycopene on the Risk of Prostate Cancer: A Systematic Review and Dose-Response Meta-Analysis of Observational Studies. PLOS ONE 10, e0137427 (2015).
- Murillo, A., DiMarco, D. & Fernandez, M. The Potential of Non-Provitamin A Carotenoids for the Prevention and Treatment of Non-Alcoholic Fatty Liver Disease. Biology 5, 42 (2016).