É muito óbvio que violência de qualquer tipo mas principalmente de ordem sexual estão relacionadas a problemas mentais. O que acontece é que as vezes não temos dimensão do estrago que traumas assim podem causar.
Diversos estudos tentaram entender como essas agressões podem afetar a vida mental de mulheres. Violência na infância, por exemplo, está relacionada a pior saúde mental, uso de substâncias, tentativas de suicídio e comportamentos de auto agressão. Em um estudo que acompanhou durante muitos anos 7700 mulheres, as que tiveram experiências de abuso sexual na infância tinham 40% de chance maior de sofrerem com dores corporais e 30% maior chance de estarem deprimidas. (Coles,2014). A chance de problemas de saúde mentais ou físicos era 2 vezes maior que nas mulheres que não sofreram desse trauma na infância. Caso o abuso ou história de violência ocorresse também na idade adulta essas chances saltam para 2 vezes de ter depressão, e 3 vezes de algum transtorno de ansiedade.
Outro estudo (Burton 2014) comprovou o que também é muito claro na prática: os efeitos de um relacionamento abusivo se arrastam por muito tempo após o término do relacionamento e aumentam a chance de depressão e comportamentos de auto agressão. E o pior: é muito mais comum do que imaginamos, chegando a 34% de relacionamento de colegiais.
Não só as violências do tipo sexual, mas também violência psicológica e física estão fortemente associadas a desordens em mulheres.
Um assunto ainda pouco estudado cientificamente é a violência e a presença de sofrimento mental em relacionamentos do mesmo sexo. Um estudo mexicano com adolescentes em relacionamento homossexual encontrou maior risco para sintomas depressivos, intenção de suicídio, e abuso de álcool. Esses fatores relacionado a exposição de violência na família as faziam mais vulneráveis à vitimização. De acordo com estudo realizado por Levahot em 2014, mulheres homossexuais ou bissexuais sofrem maior violência (inclusive sexuais) ao longo da vida comparado a mulheres heterossexuais. No entanto, pesquisas nessa área são muito iniciais e com praticamente nenhum dado de países em desenvolvimento.
Durante a gravidez a violência contra as mulheres provoca, como esperado, efeitos danosos à gestante e ao feto. Em um estudo no Peru com 1500 gravidas de baixa renda, episódios de violência aumentaram em 30% a chance de problemas clínicos e mentais relacionados à gravidez e parto. Mais um vez os dados preocupam: em um estudo em Bangladesh com 600 mulheres, 52% sofreram violência após darem a luz e 65% referiam ter sido obrigadas a ter relações sexuais contra a sua vontade.
Precisamos nos atentar e cuidar dessas mulheres que são vítimas de violência e, principalmente, cuidar das razões sociais e educacionais que prolongam essa cultura que promove tais atos. Afinal, a consequência desse abuso é grave e, infelizmente, muito mais comum que o imaginado ou divulgado.